Materiais presentes nos aparelhos podem ser tão eficazes quanto cinzas volantes e escórias de alto-forno
A IEA (International Energy Agency [Agência Internacional de Energia]) estima que em 2020 o mundo tenha ultrapassado o consumo de 30 bilhões de toneladas métricas (Mt) de concreto em um ano. Desde 1980, esse volume não para de crescer. Estudo do Georgia Institute of Technology (Instituto de Tecnologia da Georgia, nos EUA) mostra que, à medida que os países da Ásia e da África continuarem avançando com novos projetos de construção, e as nações da Europa e das Américas atualizarem as infraestruturas obsoletas, a demanda por concreto continuará aumentando.
Kimberly E. Kurtis, engenheira civil e especialista em concreto do Instituto de Tecnologia da Georgia, destaca que o consumo de concreto per capita global quase triplicou nos últimos 40 anos. “Mesmo que alguns fabricantes de cimento estejam reduzindo as emissões de CO2 por meio da tecnologia de captura de carbono, usando absorventes sólidos ou sequestrando o gás diretamente no concreto antes que ele se solidifique, não é suficiente para sequestrar o volume de CO2 necessário”, frisa a pesquisadora.
Isso remete a um trabalho cada vez mais intenso para melhorar a eficiência energética do material. Ou seja, para produzir concreto será necessário consumir menos energia e lançar menores volumes de CO2 na atmosfera. O uso de cinzas volantes e escórias de alto-forno no cimento já se mostraram eficazes para a produção de concretos mais sustentáveis, mas a ciência não para de se debruçar sobre novas alternativas. A mais recente vem do Swiss Federal Laboratories for Materials Science and Technology (Empa) [Laboratórios Federais Suíços para Ciência e Tecnologia de Materiais].
Objetivo da pesquisa suíça é produzir um aglutinante de cimento sem emissão de CO2
Através de um processo metalúrgico de reciclagem de smartphones, os suíços conseguiram separar cálcio, silício, alumínio e ferro para produzir um aglutinante de cimento sem emissão de CO2, o qual poderia substituir o clínquer. Segundo Frank Winnefeld, pesquisador-chefe do laboratório de química do cimento do Empa, é preciso pensar “fora da caixa”, pois no ritmo crescente de produção de concreto não haverá subprodutos suficientes para atender à enorme demanda da indústria de cimento para mitigar as emissões de CO2 e atender as legislações cada vez mais exigentes.
O pesquisador lembra que em um futuro não muito distante as termelétricas serão obrigadas a parar de funcionar, deixando de fornecer os subprodutos de seu principal combustível – o carvão -, que são as cinzas volantes, também conhecidas como pozolanas. “No entanto, o lixo eletrônico certamente continuará crescendo e, além de metais preciosos, esses resíduos contêm também cálcio, silício, alumínio e ferro, que são a base para os aglutinantes de cimento sem CO2”, ressalta Winnefeld. “O próximo passo de nossa pesquisa é utilizar esses materiais na formulação do cimento”, completa.
Além de cálcio, silício, alumínio e ferro, a reciclagem de telefones celulares permite extrair também metais preciosos. Dados do Treehugger – site dos Estados Unidos que contabiliza dados de sustentabilidade -, mostram que para cada 1 milhão de smartphones reciclados é possível recuperar 34 quilos de ouro, 350 quilos de prata, 15 quilos de paládio e 1,6 tonelada de cobre, além de estanho, zinco e platina, que podem ser reutilizados. Os telefones celulares também possuem materiais perigosos, como chumbo, mercúrio, cádmio, arsênico e bromo. Se lançados em aterros sanitários, esses materiais podem contaminar o ar, o solo e as águas subterrâneas, o que torna a reciclagem ainda mais relevante.
Entrevistado
Frank Winnefeld, pesquisador-chefe do laboratório de química do cimento do Empa (Swiss Federal Laboratories for Materials Science and Technology)
Contato
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Jornalista responsável:
Altair Santos MTB 2330
Fonte: https://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/cimento-pode-se-beneficiar-da-reciclagem-de-smartphones-2/